Foto: Diego Pisante / CLIX
Foto: Diego Pisante / CLIX
BEM PARANÁ (Avaliação do Crítico Fernando Klug)
Cultura
30/03/09 17:14
Festival de Curitiba
Fernando Klug/ Especial para o JE
Não foram muitos os erros básicos da “Mostra de Teatro de Curitiba”. Espetáculos cancelados por descuido, estacionamento “obrigatório e pago” lá na FIEP, mudanças de local de espetáculos sem respeitar a fila em que a pessoa comprou dão ar de descaso aos grupos e ao público. Erros acontecem, diria você. Concordo. Mas tão básicos e tantas vezes, me pergunto como pode. Chamo “mostra” sem desrespeito; não é um festival, mas a maior mostra da América Latina. E, ano a ano, a sugestão: por que não diminuir a quantidade e melhorar a qualidade?
Rosa de Vidro: trouxe uma adaptação um tanto melodramática de Tenessee Williams. Perde-se a reflexão sobre o texto. Não entendi o porquê, interpretação over das atrizes e naturalista dos atores. Aliás, o espetáculo não se define entre expressionista ou realista e a mãe torna-se, em dado momento, estranhamente histriônica. Destaque para Ricardo Gelli – o amigo - em atuação que preserva a sutileza e a inteligência do autor.
As Bruxas de Salém (The Crucible): sintetizar o longo e fenomenal texto de Arthur Miller – de carpintaria exata - é como tentar resumir poesia. E o esforço da Cia.8 já erra na escolha de tradução portuguesa, onde termos como quinta, e miúdos atrapalham a compreensão e fazem parecer que a ação se passa na Europa, e não em Massachussets. Os cortes, se deixam claro o enredo, reduzem a compreensão do amplo espectro de razões – políticas e psicológicas - dos personagens. Não é Miller. O elenco parece ter uma dimensão muito aquém da violenta repressão da sociedade calvinista (e do período macarthista); e do perigo que correm seus personagens: é mais que sua vida, em jogo, a cada momento. As movimentações são funcionais, é preciso que o elenco reveja se há sentido nelas, para seu personagem. E deve cuidar para não “comer” os finais das frases. E mais: Danforth jamais poderia aparentar fraqueza. Ele é a metáfora do fascismo do senador Macarthy. E os representantes do poder da Igreja (Hale e Macarthy), se aqui interessantemente representados por atores negros, não poderiam ter o mínimo traço gay, nessa sociedade dominada pelo calvinismo.
Ultimas Noticias de Uma Historia Só: bom texto e direção de Otávio Martins, despojado e sutil. Interpretações convincentes, tanto nas notícias – com se a voz dos narradores fosse a teoria do caos no leve sarcasmo do destino - como na história tragicômica de seqüestrador e sequestrada. O único senão é quando os atores da história vêm auxiliar na narrativa: têm dificuldade em largar os personagens. É uma peça paulistana, sobre São Paulo e de influências bortolotianas. Que bom.
Que Muito Amou: O ator Antônio Rodrigues realiza uma direção de humildade: cenário, luz e som criam ambientação para brilhar o mundo de Caio Fernando Abreu. Textos curiosos, personagens cativantes, belo espetáculo. Pode ser que seja proposital que a interpretação um tanto marcada de Ana Dulce faça escutarmos o texto. Seguida, a de Antônio Rodrigues nos faz ver texto na voz de um personagem. Completando, Marcelo Francisco já é a própria personagem, viva, além do texto. A impressão é de que Caio se baseou nele, e não o contrário. Ator de recursos com caminho aberto para onde quiser ir.
Buck Na Rua: esses caras são engraçados. A peça poderia acontecer em qualquer palco, mas o inteligente Fernando Maatz a trouxe para a rua. Talvez porque a projeção obrigue os atores a dar o texto em tom de vômito, para fora, o que combina com Bukowski. Poderiam ter escolhido local com melhor acústica e vizinhança menos barulhenta, mas as 324 pessoas (contei) não arredaram pé entre as três histórias, repletas de sarcasmo, palavrões e erotismo explícito. Cartas do Poeta – processo de criação: tem sempre aquele espetáculo que a gente achou o melhor. Neste Festival, foram dois: O Estrangeiro e esse aí. O diretor Eric Lenate e o ator Ivo Müller, em processo de criação do espetáculo, escolheram nos mostrar trechos da obra do austro-húngaro Rainer Maria Rilke que falam por si só. Como dar a nós mesmos a possibilidade de viver a poesia? De que ela se revele a nós? Neste espetáculo de rara sensibilidade, silencioso, repleto de imagens, o espectador se sente presenteado. Inteligência, sentidos, verbo e carne. Aqui se compreende a arte como alimento da alma. E, além de tudo, não está pronto. Esperemos.
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CURITIBA INTERATIVA
Foto: Diego Pisante / CLIX
http://www.curitibainterativa.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=16948
Que Muito Amou é forte e intensa
Ilana Stivelberg
26.03.2009
O amor nas formas irreversíveis. Esse é o tema central da peça recifense Que Muito Amou, baseada nos contos do livro Os Dragões Não Conhecem o Paraíso, de Caio Fernando Abreu. O título da peça é inclusive a frase que Caio F. – como gosta de ser chamado – pediu para que estivesse escrita em sua lápide.
A obra, talvez a mais intensa de Caio Fernando, foi muitíssimo bem explorada pelos atores que fazem uso impecável de movimentos corporais. São três. Cada um com sua história. Três monólogos. A amante que ganha sapatos vermelhos, mas cansada de ser a outra, tem uma noite luxuriosa com outros três homens – descrita com detalhes e desenvoltura na peça. O homem confuso que mata seu amado, Dudu, e o procura em cada corpo e canto da cidade. E a Dama da Noite, um travesti que conversa com um rapaz (o boy) de 20 anos sobre a vida promíscua de sexo, amor, drogas e, a Aids.
O texto denso, cru e forte, associado a ótimas atuações são socos no estômago do espectador. Os aspectos técnicos como iluminação, sonoplastia e fumaça (muita fumaça) colaboram ainda mais para essa confusão de sensações de Que Muito Amou e quem muito amou.
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JORNAL O POVO - CE
Vida & Arte
Fringe
http://www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/865827.html
Sobre distâncias e visibilidades
Os grupos vêm de longe, cruzam o Brasil enfrentando horas de voo e/ou quilômetros de estrada, do Nordeste até o Sul. Fazem sacrifício e arcam com todas as despesas para se apresentar no Fringe, a mostra aberta do Festival de Curitiba, mesmo sem saber se valerá a pena
Angélica Feitosa enviada a Curitiba - 28 Mar 2009 - 00h51min
"Muitos grupos com bons espetáculos, textos e montagens bem cuidadas podem passar despercebidos se não tiver o público especializado que os veja”, acredita o diretor pernambucano da Cia do Ator Nu, Breno Fittipaldi. Acompanhado do ator Henrique Ponzi, ele fazia panfletagem na porta de outros espetáculos, estratégia para chamar atenção em meio a 290 peças inscritas no Fringe, a mostra aberta do Festival de Curitiba. O objetivo era divulgar o monólogo Fio invisível da Minha Cabeça, baseado na obra de Caio Fernando Abreu e protagonizado por Henrique.
Os meninos da Cia do Ator Nu farão até domingo quatro apresentações. Tudo é muito incerto: não há garantia de público ou mesmo de visibilidade da imprensa e da crítica. O festival ainda preparou-lhes uma surpresa não tão agradável assim: o espaço de apresentação, no Solar do Rosário, tem um piano de cauda, dos maiores, no meio da sala onde entra em cartaz a montagem. O equipamento não tem absolutamente nenhuma relação com o espetáculo. “É uma sala de aula e a gente não pode mexer no piano. É difícil trabalhar nessas condições, porque o espetáculo é para ser mais íntimo, próximo. O jeito foi se adequar”, explica o diretor Breno.
Se os festivais em geral são os principais espaços de visibilidade para os grupos, Curitiba carrega a responsabilidade de ser ainda mais representativo. Por isso mesmo os também pernambucanos da Companhia Cênicas de Repertório calculam 10 mil reais do que eles chamam de investimento para o Fringe. “Isso sem contar com o excesso de bagagem”, brinca o diretor Antônio Rodrigues. O grupo tentou apoio estadual e municipal para os custeios da viagem. O primeiro negou e o segundo ainda não deu resposta. “A esperança é de ressarcimento da Prefeitura de Recife”, considera Antônio. O diretor diz que dois fatores foram fundamentais na decisão de ir a Curitiba. O espaço disponibilizado pela organização ao grupo, o Teatro Mini Guairá e a crença no espetáculo Que Muito Amou, já apresentado no Ceará, no Festival Nordestino de Teatro de Guaraminga, ano passado. “Um festival sempre traz a possibilidade de conhecer outros grupos, de dialogar, de somar ao nosso trabalho. Mas a gente sabe que é sempre um tiro no escuro. O sacrifício pode não dar resultado nenhum”, formula. O espetáculo estreou na última quinta, com público esvaziado, mas com a presença de jornalistas e críticos de várias partes do país.
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Jornal do Comércio 27-03-2009
http://jc3.uol.com.br/jornal/2009/03/27/not_324280.php
RECIFE BARRA-PESADA
Foto: Diego Pisante / CLIX
Ontem, a trupe Cênicas Cia. de Repertório estreou em Curitiba a peça Que muito amou, apresentada ao meio-dia no teatro Mini-Guaíra. Depois de sofrer algumas alterações – como a inclusão da atriz Ana Dulce Pacheco, que, apesar do nervosismo, apresentou-se bem –, a peça, que faz parte do repertório do grupo, mostrou-se mais coesa. É um espetáculo honesto, onde o texto de Caio Fernando Abreu (Sapatinhos vermelhos, Praiazinha e Dama da noite) mostra aqueles que estão “fora da roda-gigante”, limitando-se a observar os bem-aventurados donos de um amor ou de uma casa própria. São situações barra-pesada, onde a sensação de perda é uma constante.
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Site Uol - Mix Brasil
http://mixbrasil.uol.com.br/mp/upload/noticia/3_51_72001.shtml
Ovelhas brancas 1/4/2009
Mais uma vez, Festival de Teatro de Curitiba apresentou versões do assumido Caio Fernado Abreu
Por Rodolfo Lima
Caio Fernando Abreu (1948 – 1996) é presença obrigatória na programação teatral do Festival de Curitiba. Entra ano e sai ano e você pode procurar, há adaptações dos contos do autor gaúcho. Na 18° edição que terminou no último dia 29 de março, não foi diferente. O público pode conferir: “A maldição do vale negro” (SP), dirigida por Jamil Dias Pereira; “Pela Passagem de uma Grande dor” (PR) e as pernambucanas “Que muito amou” e “Fio invisível da minha cabeça”.
“Pela Passagem de uma grande dor” trazia jovens atores curitibanos que representavam personagens que não se comunicam com eficiência, que busca o outro incansavelmente e que permanecem solitários no meio do caminho. Além do conto-título o grupo se utilizou – entre outros trechos – de contos como: “Visita” e “O dia em que Júpiter encontrou Saturno”. Cheio de clichês a montagem – oriunda de um trabalho escolar – não trouxe nada de novo para a cena curitibana e a falta de apropriação do texto, dado a imaturidade dos interpretes tornou tudo pueril e frágil.
“Fio invisível da minha cabeça” é o nome dado ao monólogo encenado a partir do conto “Além do Ponto”. A montagem é simples, sem recurso e protagonizado por Henrique Ponzi – visto como um promissor ator recifense. Porém a encenação barulhenta tornou inaudível o texto e o trabalho corporal do ator contribuiu para poluir ainda mais o que não estava legível. O conto é simples, conta à história de um homem que no meio da chuva, caminha em direção a casa do outro e no caminho, devaneia em como esconder a própria decadência. Nada na direção de Breno Fittipaldi contribuiu para que a clareza do conto fosse posto em cena.
Também de Recife, “Que muito Amou” se mostrou mais eficiente e honesto em trazer um “Caio” sem grandes artifícios, ressaltando o texto e suas nuances. A direção de Antonio Rodrigues encena: “Os Sapatinhos Vermelhos”, “Uma praiazinha de areia bem clara, ali na beira da sanga” e “Dama da Noite”, ambos de “Os Dragões não conhecem o paraíso”, livro de 1989 que rendeu ao autor um prêmio Jabuti.Em Curitiba a montagem não utilizou o cenário da concepção original, o que deixou mais limpa a proposta, que conta com a bela voz da francesa Emilie Simon e uma iluminação eficiente. Rodrigues não ousou e a obviedade das cores pretas e vermelhas, os cubos, a utilização das máscaras e uma das músicas utilizadas na trilha sonora – por exemplo – torna datado e enfraquecem a encenação no todo. Ana Pacheco estreava na interpretação de Adelina, que usa sapatos vermelhos no intuito de atrair homens e sai à caça deles pela noite. O texto é difícil e a direção não resolve bem a encenação do conto. Audível, porém nada se acrescenta ao que está sendo visto. É uma história que precisa da relação de Adelina com os homens que encontra – no caso são três ao mesmo tempo – ou uma melhor adaptação do conto para que não fiquem visível as dificuldades que a trama oferece, para que seja montada a contento.“Uma praiazinha...” defendida pelo próprio diretor, relata a relação homoafetiva de dois amigos. Rodrigues deixou mais leve e menos sombria a história e resolve bem a mistura de interpretação, trabalho corporal e resoluções cênicas sem contar com grandes recursos de adereços e luz. È o contraponto entre o primeiro conto encenado (frágil) com o terceiro. Cabe a Marcelo Francisco (foto) defender o conto mais famoso – por ventura o mais montado – do autor. “Dama da Noite” é encenada com pequenos cortes no original – em vez de Mr. Wonderful, a personagem cita a marca Colcci; não é citado o Instituto de Infectologia Emilio Ribas e nem a atriz Isabel Rosselini – e permeada com a óbvia “I Will Survive”. A direção também não tornou limpa a interpretação de Francisco. Há divergências dos leitores do conto original quanto ao gênero da personagem. Alguns defendem ser uma mulher, outros uma drag. A própria trans Claudia Wonder afirma que o conto foi escrito para ela. Na montagem não se sabe o que o ator representa. Seria uma drag queen? Uma travesti? Ou uma bicha-loca-bêbada-montada? Porém ao fazer tal questionamento também me pergunto se há uma definição clara entre os exemplos citados acima, quando representados em cena. Essa falta de definição faz com que o ator tenha uma interpretação - em alguns momentos – histriônica, fragilizando assim a força do texto, o impacto do belo figurino, da iluminação e das palavras cortantes de Caio Fernando Abreu. Mesmo com ressalvas, Francisco, Ana, Rodrigues, Fittipaldi e Ponzi são as novas ovelhas arrebatadas pela obra do autor.
Ficha Técnica
RECIFE - Pernambuco Direção: Antônio Rodrigues da Silva Filho.
Com Ana Dulce Pacheco, Antônio Rodrigues, Marcelo Francisco. Cênicas
Companhia de Repertório http://www.cenicascia.com.br/
Serviço
Datas: 26/03 - 12:00, 27/03 - 18:00, 28/03 - 21:00, 29/03 - 12:00
Gênero: Drama Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00
Local: Teatro Guaíra (Mini-Guaíra)- Rua Amintas de Barros s/n Duração: 60'
Saudações Dionisíacas
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